Uma vez fui atropelado numa rua de Harare, a capital do Zimbabwe. Voltava do supermercado em direção ao hotel com sacolas nas mãos. Apesar da cara de latino e chinelas havaianas, não estava em modo turista. Já havia feito aquele trajeto uma meia dúzia de vezes. Sabia me localizar legal na cidade e até tinha feito bons passeios de bike alugada. Porém, neste dia esqueci de uma importante convenção de trânsito daquele país africano: a mão inglesa. Dois passos depois de atravessar a rua um carro me atropela. O para-choque do Mercedes me derruba no chão, o que mais tarde deixaria pequenos hematomas. No mesmo instante da pancada percebi que a burrada foi toda minha. No volante, uma jovem a sorrir da situação do estrangeiro. Desconsertado, levantei-me, catei minhas sacolas do chão e voltei para calçada sussurrando I’m sorries. A moça nem ligou, já gargalhando engatou a primeira e continuou em sua mão inglesa. Deste dia em diante convencionei-me a sempre olhar para os dois lados, seja lá onde for a rua.